No bloco Personalidade Cultural de hoje, vamos conhecer a cantora chinesa Cheng Fangyuan. Desde que iniciou sua carreira nos anos 80, Cheng já gravou 10 álbums, além de trilhas sonoras para filmes e telenovelas. Seus shows percorreram vários países como EUA, México, Zimbábue, França, Itália e Dinamarca, sendo bem acolhida pelo público.
Nascida em Setembro em 1960 em Beijing, Cheng Fangyuan apaixonou-se pela música quando pequena, e já na escola primária, comprou juntamente com suas primas um Erhu, instrumento de cordas tipicamente chinês, e começaram a praticar diariamente. O aprendizado de qualquer instrumento requer muita paciência e persistência, e apesar de suas primas terem abandonado a prática, Cheng Fangyuan nunca a deixou de lado. Sem formação profissional, ela entrou no Conservatório Central de Música da China graças aos seus próprios esforços, e iniciou o estudo profissional de Erhu. Cheng relembra:
"Naquela altura, a única razão pela qual eu me empenhava tanto era a minha paixão pela música. O Erhu mais barato era feito de plástico e custava seis yuans. Comecei a praticar Erhu desse tipo sem ensino profissional e organizamos um grupo musical na escola, no qual meus colegas dançavam, cantavam e tocavam instrumentos. Eu os via tocar e acabei aprendendo, mas não recebi ensino profissional até entrar na universidade."
Após graduar-se no conservatório, Cheng Fangyuan trabalhou como intérprete do Grupo Central de Música do país. Naquele momento, com a reforma e abertura, a China recebeu muitos artistas estrangeiros e passou a realizar intercâmbios culturais com muita frequencia. As canções populares estrangeiras tiveram influência profunda na formação musical de Cheng.
"Ouvia canções de Hong Kong, Taiwan e música folclórica estrangeira e não conseguia acreditar como poderiam existir canções tão lindas no mundo. As canções de Teresa Deng Fui me comoveram de forma tão especial que passei a imitá-la. Meus colegas e professores elogiaram bastante a minha versão das músicas dela."
Cheng Fangyuan revelou que canta com sentimento, e que felizmente sua trajetória musical não foi difícil. Ao terminar seu curso no Conservatório, Cheng foi convidada a interpretar a canção tema de uma telenovela, o que lhe rendeu muitos elogios. Depois passou a fazer shows com um grupo musical em diversas províncias e cidades do país, ganhando reconhecimento nacional. A partir daí ela não parou mais, tornando-se cantora solo do grupo de danças e cantos Dongfang, e gravando diversos álbuns. A sua canção "A Infância", por exemplo, ganhou o prêmio de "Dez Melhores Canções do Ano".
Em 1995, Cheng Fangyuan foi estudar nos EUA. Numa cidade multicultural como Nova York, ela podia respirar música e arte por todas as partes, e assim pôde dedicar-se exclusivamente à música.
"Todos os dias no metrô, eu tinha o costume de observar pessoas das mais variadas profissões. Até que ouvi uma afro-americana cantar. Ela cantava alto com um desprendimento tal, que muita gente foi atraída pela sua música. Velha e feia, ela não tinha características de uma estrela, mas fez meus olhos se encherem de lágrimas."
Essa temporada de estudos em Nova York também despertou seu gosto pelos musicais. Ao voltar à China, ela introduziu o musical da Broadway "A Noviça Rebelde". Embora seja capaz de tocar alguns instrumentos e cantar, era a primeira vez que Cheng unia música à interpretação dramática, e por essa razão o desafio foi maior.
"Foi muito cansativo. Além de filmar e praticar, tinha que aprender como criar um personagem e interagir com os outros atores. Tive que aprender tudo isso, pois não sabia nada nesta área."
Para Cheng, o maior desafio era ter que lidar com todas as fases da produção de um espetáculo. Recrutar atores jovens, realizar audições, procurar patrocinadores, revisar roteiros, divulgar o musical no mercado…tudo isso precisava ser tratado pessoalmente por Cheng. Naquele momento, para poupar dinheiro, ela escreveu o roteiro, criou a vinheta de publicidade e a gravou em fita cassete para entregar às rádios.
Embora o processo tenha sido árduo, Cheng finalmente conquistou o sucesso. Essa trajetória lhe ensinou que todos somos dotados de grande força e poder, mas a compensação vem através do esforço.
"Não sou muito extrovertida e não sei como negociar com as pessoas. Mas tenho que aprender isso, pois quero realizar meu sonho. E por não ser sociável, eu tinha que trabalhar muito mais do que o resto do grupo, mas com meus esforços, realizamos um espectáculo de sucesso. Para alcançar um objetivo, deve-se acreditar na sua capacidade de mudar suas próprias características, pelo menos a curto prazo."
Em 2008, Cheng Fangyuan foi apresentadora de um programa musical comemorativo dos 30 anos da reforma e abertura da China, produzido pela Estação de Televisão de Beijing. Como testemunha do desenvolvimento das canções populares chinesas nos últimos 30 anos, Cheng afirmou: "Acompanhando diferentes obras musicais nas últimas três décadas neste programa, sinto que a vida é semelhante à música, pois ambas passam por inúmeras transformações rápidas e não temos consciência de quanto."
Cheng Fangyuan não leva uma vida grandes luxos. Quando viaja, por exemplo, compra passagens de avião pela internet por serem mais baratas, e se hospeda em albergues da juventude ao invés de hotéis. Às vezes sentia a necessidade de expressar o que sentia e não sabia como, até que descobri a guitarra e o canto. Cheng agradece por tudo que a música lhe proporcionou, como a liberdade de expressão, o conforto e uma atitude mais relaxada em relação à vida.